terça-feira, 15 de setembro de 2015

Leve-me ao seu gerente.

  Sentado sozinho na grama de uma chácara distante, meia noite, em um acampamento de uma igreja em que acabei de chegar, eu senti Deus. Olhando um céu imenso que pareceu ter sido pintado cuidadosamente só pra gente, que estávamos ali durante três dias procurando uma intimidade com Deus. Eu pelo menos procurava uma simples proximidade dele. Intimidade com um ser tão imenso pra mim não parece ser algo tão simples. O único momento em que me senti próximo de Deus foi ali: sentado sozinho na grama, envolto ao céu aberto e receptivo na madrugada do dia 1 para o dia 2 de maio. Minha bisavó teve um encontro com Deus e nunca soube explicar exatamente como foi. Eu envolto àquele céu também não sei explicar exatamente como foi, então senti que era algo divino ali. O toque do divino no ser humano dá vontade de chorar. E eu chorei.

  Sempre fui visto como um ser pagão pelo fato de que eu preferia a distância da casa de Deus. Eu não via Deus onde diziam que ele estivesse. A hipocrisia me causava raiva, e vendo grandes pastores envolvidos com processos, representantes do evangelho se expondo de maneira tão tola na mídia e comentários fúteis e vazios de fiéis que eu achava inteligentes me causaram revolta, como eu sei que causa na grande maioria dos jovens que se questionam à procura interminável por Deus. É por isso que tantos jovens usam drogas: só queremos uma experiência de epifania fora do próprio consciente. 
  Procurei Deus em uma igreja onde fui bem recebido. Eu soube relatos de pessoas de lá que tiveram experiências fortes com o divino, mas comigo não foi assim. Eu sou filho de pais gays e ao leva-los nessa igreja, fomos vítimas de preconceitos e insultos pelos ''fiéis''. Muitos evangélicos têm o péssimo costume de amar ao próximo, desde que o próximo também seja evangélico. Tive certeza de que ali Deus não estava. Ou estava calado, na dele. 
  Deus estava na Bahia. Eu o procurei por lá, mas também não o encontrei. Deus estava dentro de cada um ali, onde quer que eu fosse, por isso a minha vontade de ser baiano e ter a fé inabalável, que eu constatei na missa da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. É impossível ir à Bahia e não ver a fé em todos os lugares: Aquela serenidade toda do baiano só pode ser algo divino e eu fui procurar Deus na basílica Nossa Senhora da Conceição da Praia. O mais próximo que cheguei do divino foi em Santo Amaro, quando recebi uma reza de Dona Canô e levei pra casa um amuleto pra me lembrar que eu poderia ser reconvexo. Mas ainda sim não era Deus. 
  Contato com o divino eu já tive vários, mas não há nada de errado em querer uma experiência grande, diretamente com Deus. Me disseram que eu poderia ser digno disso. Minha avó por parte de pai é macumbeira, e mora um pouco longe, e eu fui passar um tempo na casa dela pra me recolher. Passei por um ritual no qual fiquei trancado num quarto escuro e vazio, vestido de branco, com uma pomba branca trancada numa gaiola do meu lado. Eu não podia sair dali durante os dois dias e não consegui distinguir meus delírios do real, e tive várias epifanias. Depois daquele tempo eu nunca mais fui dependente de drogas, passei a ser mais sensível com várias coisas e atingi a serenidade de espírito. Mas Deus não estava lá também. 

  Encontrei Deus por acaso, dois anos depois, em um simples cara magro alto, de barba cheia. Deus estava em um hipster e em todos os seus poucos amigos que constituíam uma igreja que não era grande e luxuosa, localizada num bairro perigoso. Depois de procurar Deus por longos 5 anos, ele apareceu pra mim por acaso. Vi Deus nos meninos da banda, nos casais sentados juntos, nos jovens bem dispostos e nos proletariados. Eles me levaram até Deus, que tocou em mim da maneira mais sutil que eu poderia imaginar. Não é atoa que o nome da Igreja é Carisma. A igreja não é cheia, mas nas melhores pessoas Deus está lá, e se o mundo soubesse disso, ninguém mais iria à Bahia procurar por ele.

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