Foi em Aruanã que eu perdi um parafuso

  Um parafuso a menos na minha cabeça. Perdi em meio a amigos que também têm parafusos faltando na cabeça. Eu havia acabado de chegar de São Paulo em uma viagem longa e cansativa e no dia seguinte Tânia me liga, me convidando pra passar o Carnaval em uma casinha pacata em uma cidadezinha do interior de Goiás que faz divisa com Mato Grosso, chamada Aruanã. Tânia não é da minha família, mas em questão de consideração é a minha tia, e eu adotei e ela e toda a família dela. Nem desfiz a mala de São Paulo, topei a viagem e fomos a família inteira.

  Eu não sei se era o fato de eu estar com pessoas acolhedoras e amorosas, ou o fato de que aquela cidade era bem localizada próxima à um lago maravilhoso que cortava duas regiões com uma floresta no outro extremo, mas eu senti uma paz inexplicável naquele lugar. Era possível respirar amor e expirar a liberdade. A cidade era antes habitada por duas pequenas tribos indígenas, o que deixava o lugar ainda mais puro e positivo, e sabendo o chão em que eu estava pisando, eu andava descalço por todos os lugares.

  Durante a noite, nossos colchões ficavam do lado de fora da casa ao ar livre, e durante o dia a gente ficava na beira do lago com o narguilé, olhando o céu limpo e a floresta.

  Nas duas noites de carnaval o centro da cidade lotou, com shows de Maria Cecília e Rodolfo, outras duplas sertanejas que eu não me lembro o nome, e Lucas Lucco. A cidade tava lotada de turistas, e mesmo sem eu curtir sertanejo, nós fomos ao show. Não importa a qualidade do evento, as atrações da festa ou o local quando se está em boa companhia, não é mesmo?!

  Na vinda pra casa, eu desenhei a família toda. Na casa, todos juntos conversando, comendo e ouvindo música, foi uma cena tão forte pra mim que já era um desenho pronto, e qualquer tipo de arte é difícil representar a personalidade daqueles parentes. Foi quando me toquei que você pode sim escolher a família do qual faz parte.