quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Eu também posso ser uma peça.

  Foi-se 2013, e com ele os meus cabelos vermelhos e o papado de Bento XVI. Fim do mundo ou o início de uma nova era: o novo papa é argentino. Foi-se também no ano de 2013 a dignidade da presidente Dilma, quando o dito gigante acordou e as manifestações no Brasil inteiro pediam por um governo melhor, fim da corrupção, reforma política e várias outras pautas. No ano seguinte, ano de eleição, o gigante dormiu de novo e a inflação aumentou. Os condenados do Mensalão finalmente se entregaram à Polícia Federal e foram presos. Tenho o costume de ler jornais de manhã cedo, e tudo isso me preocupou, como preocupou qualquer outra brasileiro com o futuro incerto, mas o que mais me preocupou foi o fato de mais um ano ter se passado, e eu não vi um show de Rolling Stones. A banda fazia turnê por toda Europa e nem sinal de um anúncio de show deles pelo Brasil. Boatos surgiram dizendo que Mick Jagger e o grupo viriam pra cá no segundo semestre de 2014. Me animei.

  Chegou 2014, e com ele novos planos. Em janeiro eu fiz 19 anos a comemoração foi ótima em uma festa que durou todo um fim de semana. Meu plano era continuar entregando desenhos para artistas em shows, colecionar histórias até a vinda dos Stones, quando eu encerraria este tão amado e cansativo hobbie, e arrumaria outra coisa pra fazer. Em 2014 eu arrumei vários empregos, pra conseguir pagar a vida boêmia que eu queria ter. Pra ter minha independência financeira, até de atendente do Mc'donalds trabalhei durante apenas uma semana, acredite ou não. 

  No dia primeiro de fevereiro o ator Paulo Gustavo voltou em Brasília, para duas apresentações do espetáculo ''Minha mãe é uma peça'', e mesmo já tendo visto a peça, eu não podia perder. Os ingressos esgotaram no primeiro dia de vendas com uma fila na bilheteria que dava voltas no Shopping Iguatemi, onde seria a peça. Eu não fui no dia da abertura da bilheteria e perdi o prazo pra compra de ingressos. Vocês se lembram de Iva? Minha tia Rock and Roll cujo já citei aqui antes, no post do Brasília Pop? Pois é, não satisfeito com o esgotamento dos ingressos, eu chamei Iva para ir ao teatro do Iguatemi de última hora e fomos correndo. Na correria toda, Iva me buscou em casa faltando apenas 40 minutos para começar a peça. O caminho da minha casa até o local da apresentação leva no mínimo meia hora pra chegar. Eu levei um desenho para Paulo Gustavo, e pensando em uma maneira de chamar a atenção do comediante, eu peguei em casa um vestido, bobes de cabelo, um lenço, sapatilhas e desci correndo pro carro de Iva, que me esperava em baixo do meu bloco. Me montei no caminho do teatro... 

  Iva levou o seu filho, Pablo, que morria de vergonha do banco de trás do palco, enquanto eu ia me vestindo de Dona Hermínia no banco da frente. Iva ia ajudando. Ela me emprestou o estojo de maquiagem dela pra eu me maquiar correndo antes da gente chegar lá, e chegamos faltando apenas 10 minutos pra peça começar. Corremos pra fila da bilheteria pra ver se conseguíamos alguma cortesia, desistência ou algo assim, mas estava tudo esgotado. 

  Assim que chegamos na bilheteria, vários fãs chegaram depois, formando uma fila atrás da gente, atrás de ingressos pra peça também. Insistimos por ingressos, mas estava tudo esgotado mesmo. Faltando poucos minutos pra peça começar, já estávamos nos conformando que não conseguiríamos, quando um dos produtores apareceu com cinco ingressos na mão. Os ingressos eram cortesias para convidados que não apareceram, e comigo Iva e Pablo, já eram três ingressos. Compramos bem mais barato do que o ingresso realmente custava, e os outros dois ingressos foram vendidos pro casal atrás da gente na fila, ficando ainda muita gente inconformada por não ter conseguido entrar. 
  Corremos pro teatro e quando fomos ver, nossos ingressos eram na segunda fila do teatro, bem de frente pro palco. Assim que sentamos, Dona Hermínia apareceu ao som de Anitta, desfilando por entre o público. Ele me viu vestido de Hermínia na platéia e me chamou pra subir no palco. Na falta de uma câmera fotográfica, Iva conseguiu apenas uma foto tirada do celular mesmo pra registrar o momento. Tem certos momentos da vida que é melhor viver e aproveitar do que se preocupar em ficar fotografando, não é mesmo?! 

 Subi no palco e participei um pouco da peça. Paulo fez piada do desenho que entreguei pra ele, dizendo que a mãe dele é bem mais gorda do que eu tinha desenhado, e que eu tinha exagerado na cabeça dele. Me deu um beijo e eu desci do palco pra ver a peça. Ele fez piada com o teatro, zoou a Ceilândia, pediu mais respeito aos professores de estado e fez a peça doente. Paulo Gustavo aguentou duas apresentações tendo tomado uma dose de Bezetaciu, mas não cancelou as apresentações. Fez doente sem perder a qualidade.

  Paulo Gustavo me passa uma sensação de motivação e coragem. De genialidade e simplicidade. Eu quero ser como Paulo quando crescer, pois ter subido naquele palco a convite dele, me fez perceber que eu também posso ser uma peça. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário