quarta-feira, 22 de julho de 2015

I take a train in technicolor

  Já falei sobre tropicalismo aqui, no post passado. Em meados dos anos 60, quando a música brasileira se resumia em banquinho, violão e pandeiro, jovens revolucionários apareceram e misturaram tudo. Rock, samba e bossa nova virou uma coisa só. Chamada a nova MPB, que cansou passeatas anti guitarra, lideradas por Elis Regina, que não queria a música popular brasileira com influência americana.
  Em meio a isso tudo surgiu a primeira banda de rock a fazer sucesso no Brasil. Os Mutantes, batizados por Ronnie Von, é considerada a banda de rock mais importante da história da música brasileira. Formada por Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e a moça linda do grupo, Rita Lee. Os três tropicalistas representavam o deboche, a liberdade e o movimento hippie no Brasil. A banda surgiu em São Paulo e fizeram sucesso até fora do Brasil, mas a banda acabou ainda no início dos anos 70, quando Rita Lee foi expulsa da banda.


  Anos depois a banda voltou a ativa, mas sem Rita Lee, e eu fui ao show.
  Era um festival de bandas locais na área externa do Museu Nacional, com premiação para a melhor banda. Eu cheguei às 20hs e conheci um casal gay muito adorável. Um deles trabalhava na produção do show e me deu uma credencial para ficar na área vip, vendo os shows de perto, com cerveja liberada. Conheci uma moça muito louca que a vi em outros shows depois, e outra moça que era a cara de Rita Lee na época de Mutantes. Ela representava Rita em um musical de Brasília sobre os Mutantes. Conheci quase todos na área vip, e era um pessoal muito louco, alternativo.
  Os shows locais foram rolando e com isso as drogas rolavam soltas também. Já era tarde da noite e eu estava cansado, então fiz uso de cocaína pra conseguir forças pra ver os Mutantes, que foram anunciados só às 4 horas da manhã. Na abertura do show dos Mutantes, tocou a banda encedora da noite, Escalene, que hoje está arrasando no programa Super Star, na Globo. Eu sentei e desenhei Sérgio Dias em uma folha de papel que eu tinha levado enquanto esperava o show. As pessoas faziam sexo dentro dos banheiros químicos e o lugar tinha cheiro de maconha por onde quer que você fosse. Rolava-se a notícia na área vip de que Sérgio Dias, vocalista dos Mutantes passou mal e estava se recuperando pra fazer o show. Às 4 horas da manhã os Mutantes finalmente entraram no palco, e eu pela primeira vez usei ácido. LSD puro, que não estava misturado com metanfetamina ou qualquer outra porcaria.

  O show foi sensacional. Cantaram sucessos antigos, sucessos novos e Zélia Duncan substituiu o lugar de Rita Lee no grupo. Quando eles tocaram minha música favorita ''Technicolor'', eu senti um arrepio inexplicável e vi como se o cenário psicodélico do show saísse do palco e fosse em nossa direção.

  No telão de led aparecia uma caveira de óculos escuros, num fundo colorido, e pra mim era como se essa caveira crescesse e tomasse todo o palco. O som dos Mutantes vinha em forma de raios cósmicos e entravam dentro de mim, fazendo eu me sentir cada vez cada vez mais desligado, sem sentir meus pés no chão.

  Num momento do show, enquanto Sérgio Dias fazia um solo de guitarra, eu me segurei e subi na estrutura do show e entreguei um desenho pra ele. Ele adorou o desenho e elogiou no palco.




  O show acabou lá pelas 6 da manhã e passamos no backstage antes pra ver os músicos no camarim. E lá estavam os Mutantes. Sem câmeras no camarim pra não parecer algo invasivo e inconveniente. Lá ouvi histórias do passado. Contaram que na verdade Rita não foi expulsa da banda, mas saiu por conta própria por ser muito capistalista. Contaram fatos que aconteceram com os Mutantes no fim dos anos 60 e início dos 70. Esclareceram polêmicas antigas que estão na boca de rockeiros dinossauros e em mesas de bares rock and roll até hoje. Me falaram no final: ''Thiago, as poucas pessoas que sabem disso estão morrendo, e você sabe, meu querido!''.

  Depois de ficar sabendo de várias histórias e fatos que qualquer rockeiro adoraria saber, eu saí do show e relógio já marcava 7 horas da manhã. Saí cansado, andando pela Esplanada, rumo à Rodoviária, quando passou um carro com uma das bandas que tocou no festival e me ofereceram carona pra casa. Aceitei a carona, e eles foram cantando e se drogando o caminho todo. Cheguei em casa morto e dormi o resto do fim de semana todo. Gastei toda a energia que eu tinha pra gastar em apenas uma noite. Dormi feliz nos anos 60 e acordei disposto, de novo no ano de 2013.

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