quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Fomos abraçar e agradecer a Maria de todos nós

  2015 começou com o PT no poder mais uma vez. Eu não tinha emprego e do jeito que as coisas estavam e ainda estão, as minhas esperanças de encontrar algo bom para me estabilizar eram poucas. Mas as minhas esperanças de um show dos Rolling Stones no Brasil eram altas. A revista da companhia aérea GOL divulgou uma matéria dizendo que possivelmente a banda viria ao Brasil para 4 apresentações a partir do dia 23 de novembro. No Réveillon prometi a mim mesmo que eu não exitaria em fazer nada que eu tivesse vontade durante o novo ano que viria, e assim vem sendo desde então. Decidi que pela primeira vez eu iria ao maior festival de música de entretimento do mundo, e comecei a fazer planejamentos para ir à edição de 30 anos do Rock in Rio. Procurava cada vez mais a perfeição em meu trabalho: nos desenhos que entregava para artistas, nos posts do blog, nos livros que eu ilustrava para diversas editoras, nos meus estudos e no que me dedicasse. 

  18 de março, Leidinha e Kamila, grandes amigas do fã clube de Rita Lee vieram a Brasília em companhia de Ela, outra grande amiga também do fã clube, que mora em Petrópolis pra verem juntas o show de comemoração aos 50 anos de carreira da Maria Bethânia. A turnê ''Abraçar e Agradecer'' reúne clássicos da cantora num show bastante caro. Acredite se quiser: consegui ingressos grátis na terceira fila. Cheguei no teatro duas horas antes do show começar pra tentar entregar um desenho para Bethânia, e o produtor com pena ao saber que eu estava sem ingresso, me deu uma cortesia e desejou-me boa sorte. 


  Lá dentro encontrei Dinha, Kah e Ela, de quem eu estava com muita saudade faz tempo. Tiramos uma foto pra registrar. O rapaz na foto é Francisco, dono de um dos fã clubes de Caetano Veloso, que me conseguiu ingressos pra ver o show de Caetano meses depois. 

  E às 20hs30 entrava Maria Bethânia correndo descalça, com os cabelos e a saia esvoaçantes como estamos acostumados a ver durante 50 anos. Aquele sorriso largo e os braços cheios de pulseiras abertos como quem recebe o público com amor, pronta para abraçar e agradecer cada fã que lotava o teatro Ulysses Guimarães, e aplaudia a rainha de pé. 

  No bis é convidado para os fãs se levantarem das poltronas e se aproximarem ainda mais do palco, onde Bethânia passa apertando a mão de todos, depois de cantar ''O que é o que é'' com o refrão que diz: ''viver e não ter as vergonha de ser feliz. Cantar, cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita é bonita, é bonita e é bonita''. 


  O show de Bethânia é lindo principalmente por ser uma reflexão de sua fé. Bethânia canta para Iemanjá, recita poema para Ogum, e faz uma saudação à Oxum. Uma das músicas é um poema que põe em pauta várias tribos indígenas brasileiras e no meio repertório, é claro que não podia faltar músicas de Chico Buarque. Maria Bethânia no palco ou fora dele é a mais completa tradução da cultura brasileira e quando eu já estava certo disso, ela volta no palco depois de um breve bis, e manda um Reconvexo, trazendo Dona Canô e sua novena rezada por aqueles que não serão descartados. 

  Depois do show, fomos todos juntos nos bastidores parabenizar Bethânia pelo show, e para eu entregar um desenho pra ela. Admire Maria Bethânia, mas respeite o espaço dela, e não chegue perto dela eufórico ou a encoste sem que ela lhe dê permissão. Bethânia nos recebeu muito bem, agradeceu o carinho dos fãs e partiu cansada para o hotel. 
           
             Dinha e eu com Maria Bethânia, saindo dos bastidores do teatro Ulysses Guimarães
 
Ela gostou do desenho e saiu com ele em mãos, toda linda, vestida de branco.

  Abraçar Bethânia é como abraçar o mar da Bahia, ou se deitar na mata do Recôncavo baiano, ouvindo a cachoeira e a natureza em volta. É como abraçar seres divinos, que mesmo você não sendo devoto, se sente a paz pelo toque. Maria Bethânia carrega consigo as raízes de onde ela veio e tudo isso faz o que ela é: alguém que eu tive o prazer de abraçar. 

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